Desorganização: Não dá para não temer!

Ao mesmo tempo em que vemos uma geração acordar, sair do ostracismo, o que devemos considerar muito positivo, percebemos que a falta de conhecimento e envolvimento político dos jovens, leva os movimentos atuais a caminhos perigosos, colocando em risco a democracia que foi reconquistada depois de muito sangue derramado, muitas torturas e mortes das gerações passadas. Hoje é comum nos deparar com pessoas que até poucos dias atrás defendiam o militarismo, a ditadura militar, oportunamente, apoiando e contaminando corações e mentes que estão no calor da autodescoberta, com sentimentos de intolerância que nos remetem à ascensão do nazifascismo.

A pluralidade partidária é que faz o equilíbrio da nossa democracia. Sem os partidos políticos não é possível exerce-la. São as legendas partidárias, as organizações necessárias para que interesses sejam agregados e conflitos negociados em um regime democrático. Estariam nossos jovens com suas posturas de tolerância zero, realmente, interessados em engrossar a massa de uma cultura totalitária, autoritária, e colocar no forno um único sabor de bolo? Um só partido, uma única verdade? Quero acreditar que não vamos trilhar esse caminho perigoso, mas me preocupa a intensidade dos poucos grupos violentos que estão infiltrados nos movimentos, aproveitando-se da falta de interesse por política dos nossos jovens e do “anti-tudo” que protagoniza grande parte dos protestos.

Não estou querendo dizer que não são válidos os atos de manifestação, muito pelo contrário, sou totalmente a favor de qualquer tipo de reivindicação, desde que ela tenha foco, organização, que não deixe qualquer lacuna, pois quando isso acontece ela pode ser ocupada por correntes anárquicas e, consequentemente, essa, engolida pelo fascismo. Hitler e Mussolini são retratos guardados nos álbuns da história que nos remetem a essa realidade.
A semente do movimento foi o ‘Tarifa Zero’, que soube regar na medida certa e fazer florescer a primeira planta, atingir seu primeiro objetivo. Soube dar a pausa na hora certa para não molhar demais e provocar a morte da planta. Esse grupo nasceu organizado, sim. Ele sabe a que veio e por isso é referência desse inédito modelo virtual de mobilização no Brasil, que, logo, influenciou os protestos dirigidos aos gastos com a Copa, e, certamente, será responsável por muitas mudanças em nosso país, se for ganhando maior organização.

Essa organização, dentro de um país democrático, passa inevitavelmente por partidos políticos e todo tipo de órgão representativo da sociedade, que muito contribuíram no processo de redemocratização do país. Quero crer que nossa juventude, a partir de agora, tenha vontade de tirar seu título eleitoral logo que completar dezesseis anos e chame para si a responsabilidade do voto, que seja protagonista nos processos de mudanças valorizando aquilo que temos de mais importante: a democracia, que não vive separada do direito de votar e da organização que abre espaços para jovens, homens e mulheres defenderem os interesses da sociedade e possibilitar serem votados – o partido político.

Se você não concorda com a atuação das legendas partidárias, escolha a que mais se adequa aos seus pensamentos e mostre que você é capaz de provocar mudanças. Elas podem começar no próximo manifesto, abrindo espaço para que militantes partidários também expressem suas indignações. Caso contrário, estamos colocando em risco nossa democracia e se assim for, plagiando a campanha da Folha: Não dá para não temer.

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