Quem tem medo de Machado de Assis?


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Estamos inaugurando o nosso SARAU VIRTUAL com uma resenha de Jô Azevedo sobre a visita de Milton Hatoum na Biblioteca de Várzea Paulista. Vejam a construção!. Quem sabe, sabe. Valeu JÔ!


Quem tem medo de Machado de Assis?


A deixa foi do escritor Milton Hatoum, em sua passagem por Várzea Paulista: somos responsáveis por iniciar nossos alunos pelos caminhos da leitura, mas sem medos e nem sustos. Hatoum mencionou bons autores brasileiros que os jovens deveriam ler necessariamente, orientados pela sensibilidade dos educadores. Entre eles, Machado de Assis. “Talvez não seja possível começar a gostar de Machado com Memórias póstumas de Brás Cubas, romance complexo, mas por que não com seus contos?”, disse ele à platéia que foi ao seu encontro, na terça, dia 7 de junho.

Lembrei imediatamente de Conto de escola, que a biblioteca tem no seu acervo graças à parceria com a Petrobrás no Projeto Conto Encanto. É uma edição ricamente ilustrada de 2008, destinada ao público infanto-juvenil, da Editora Cosac Naify. Traz memórias de um Machado de Assis moleque danado e sua relação com a escola, no Rio de Janeiro de 1840.

É um texto curto, fácil de ler, mesmo com o vocabulário da época, como a palavra “sueto”, que significava “dar um chapéu” na escola. A edição tem um glossário desses termos, mas mesmo sem consulta, deciframos facilmente a escrita do autor.

O conto é mais um exemplo da genialidade de Machado de Assis no emprego desse gênero de texto. Quem começa a lê-lo, não pára, procurando descobrir onde vai acabar a aventura do garoto que cabula aulas, apanha do pai com vara de marmeleiro e, entra numa “fria” por passar cola (paga!) ao filho do professor. Viajamos para uma outra infância, no tempo em que as crianças podiam brincar, empinar pipas e vagar livremente pelas ruas, mas em que a autoridade do pai e do professor era inquestionável, garantida até com palmatória.

Nessa edição em particular, as ilustrações de Nelson Cruz, artista gráfico mineiro, ajudam a acabar com os receios de ler o texto. Ele procurou referências em artistas que retrataram o Rio de Janeiro em meados do século XIX, como Jean Baptiste Debret, para criar um cenário colorido em que um Machado de Assis de seus 10 anos se movimenta. Elas foram feitas para uma edição chinesa deste conto, em 1998. “Ilustrações são universais, mas é sempre uma aventura comunicar-se através delas”, escreveu Cruz sobre seu trabalho no final do livro.

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