A corporação médica brasileira chama minha atenção há alguns
anos por sua cultura altamente elitizada e esse corporativismo fechado fica cada
vez mais claro com as recentes manifestações contrárias ao programa ‘Mais
Médicos’. Essas instituições estão reivindicando que o programa do governo
federal seja proibido pela justiça, para impedir que médicos estrangeiros cheguem
às regiões mais afastadas e consigam levar, ao menos, o atendimento médico
básico à população menos favorecida de nosso país.
Quem deveria estar atendendo nesses lugares, realmente, deveriam
ser os médicos brasileiros. Mas nossa classe médica é composta em sua maioria
pela elite do nosso país, e não diferente de outras áreas do mundo capitalista,
nossos avantajados médicos querem fazer da profissão, unicamente, um meio de
ganhar dinheiro e ficar cada vez mais ricos.
É atendendo as classes mais pobres nas longínquas cidadezinhas
no nosso imenso país que vão encontrar os poderosos da indústria de remédios e
participar do jogo onde a saúde é a bola? São nesses lugares que vão encontrar
uma variedade de planos de saúde para atender diariamente dezenas de pacientes
“em toque de caixa” e garantir seus altos ganhos no final do mês? Claro que
não! Para isso eles precisam estar nos grandes centros, afinal, ao paciente lá
de “Cabrobó de Deus nos Acuda” falta dinheiro para comprar até uma dipirona.
Estamos recebendo médicos estrangeiros de qualidade sim. Experientes
médicos da América do Sul, da Espanha, de Portugal e os grandes especialistas em
doenças tropicais, que chegaram de Cuba para cuidar de nossa população mais
pobre com a atenção especial que ela precisa. São profissionais que colocam a
medicina acima dos interesses pessoais e trabalham para o coletivo, numa
importante e humanitária missão social.
A recepção dos nossos abastados médicos aos estrangeiros,
sobretudo, aos cubanos foi uma cena deprimente. Pareceu que estavam protestando
a importação de bandidos, estupradores ou qualquer coisa do gênero. Mas como
diz a frase de Nelson Rodrigues: “De gente burra, só quero vaias”.
O que os “doutores brazucas” temem com a chegada dos médicos
estrangeiros em nosso país? Perda de espaço para trabalhar não é, já que
recusam salários de até R$ 30 mil para trabalhar em localidades distantes. A
verdade é que estão preocupados com a comprovação da eficiência dos
estrangeiros, que não cometam os erros absurdos praticados por vários médicos
brasileiros – com diplomas revalidados - e mostrem ao povo brasileiro o
verdadeiro valor da medicina, que tem em seus princípios o compromisso de
jamais omitir socorro, sobretudo, dedicar uma atenção especial às classes menos
favorecidas da sociedade. Tudo que boa parte dos nossos “doutores da burguesia”
nunca praticou no exercício da profissão.
Inconstitucional, ilegal, trabalho escravo, língua, são apenas
alguns dos argumentos que as milionárias e poderosas entidades médicas se
utilizam, na tentativa de abortar a contratação dos médicos estrangeiros. É lamentável, muito triste e revoltante verificar o que essas
entidades representativas da classe médica brasileira estão fazendo, mas é
igualmente lamentável ver a falta de firmeza, a falta de objetividade do nosso
governo na defesa do imprescindível programa ‘Mais Médicos’, que chega
correndo, atrasado, mas alicerçado por grandes seres humanos, cidadãos de fato:
os médicos estrangeiros.
Portanto, uma salva de palmas à iniciativa da presidenta Dilma e
à humildade dos médicos que deixaram seus países, suas famílias para cuidar da saúde, da vida dos
idosos, das crianças, dos homens, das mulheres pobres do nosso país, que pagam
seus impostos e ajudam a manter a maioria dos cursos públicos de medicina,
ocupados em sua maioria, pelos “filhos da burguesia” brasileira, os mesmos que se recusam trabalhar
no SUS ou em algum posto distante do nosso imenso Brasil.
A verdade é que muito pouco da demanda foi atendida, nossa saúde
continua muito doente e o país permanece anunciando: Precisa-se urgente muito ‘Mais
Médicos’.
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