No país do futebol quem dá a “bola” é a lei da “vantagem”


Desde que me conheço por gente – e lá se vão mais de cinco décadas – os absurdos envolvendo as entidades máximas de futebol sempre estiveram nas pautas jornalísticas e na boca do povo brasileiro, principalmente, a partir da chegada de João Avelange ao cargo máximo da Fifa, em 1974. Sob seu comando a Federação transformou-se em uma grandiosa empresa com forte poder financeiro e político, mantido pela crescente adesão de organizações do futebol mundial, duplicando a participação de seleções nos 24 anos que presidiu a entidade – De 16 em 1974, para 32 seleções na copa de 1998, quando deixou o cargo.

Com o poder e o enriquecimento, vieram os escândalos envolvendo a entidade, suas federadas, empresas parceiras contratadas e seus dirigentes maiores. Fifa e CBF sempre protagonizaram escândalos e foram alvo de investigações, principalmente, as gestões familiares que unia as duas entidades desportivas – João Avelange e seu genro Ricardo Teixeira, dirigente que por mais tempo comandou a organização maior do futebol brasileiro. Foram mais de 23 anos consecutivos no poder, desde que Ricardo Teixeira, em 1989, derrotou o então vice-presidente, Nabi Abi Chedid, até sua renúncia em 12 de março de 2012, motivada por uma metralhada de denúncias da Rede Record e pela desgastada imagem junto ao governo da presidente Dilma, à imprensa e à opinião pública.

Com a saída de João Avelange, em 1998, entrou para o comando da Fifa, seu braço direito, Joseph Blatter. Logo, em 2001, a entidade foi investigada por suposto envolvimento em suborno com dirigentes da empresa de marketing ISMM/ISL, antiga prestadora de serviços que mantinha atividades ilegais, o que foi desconhecido por Blatter e toda a cúpula da Fifa. Porém, em 2010, surgiram suspeitas de corrupção nas escolhas das Copas de 2018 (Rússia) e 2022 (Qatar), investigações que atingiram as recentes prisões de dirigentes da Fifa e do ex-presidente da CBF, José Maria Marin (aquele que estava no lugar do amigo Ricardo Teixeira).

Apesar de não ter citação aberta, o nome de Ricardo Teixeira aparece na investigação do FBI sobre o esquema de corrupção na Fifa e na CBF, onde as autoridades norte-americanas afirmam que ele foi beneficiado com propinas em contratos da CBF com empresas parceiras, caso da Nike e, também, dos negócios firmados para venda de direitos de transmissão da Copa do Brasil.

E nesse balaio de gatos, nesse samba do crioulo doido, a exemplo dos acontecimentos na política brasileira dos últimos anos, estão todos juntos e misturados. No país do futebol a “bola” rola solta na política e a “lei” de levar vantagem em tudo, que acompanha os brasileiros desde o império, parece imperar, também, nas entidades desportivas do país e do mundo. Acompanhando as investigações do FBI e da polícia federal nos últimos anos, podemos perceber que os expedientes utilizados pelas “quadrilhas” denunciadas no meio político ou no mundo futebolístico, têm as mesmas táticas, entre elas: consultorias fajutas, fraudes, extorsões, propinas e lavagens de dinheiro.

Sou aquele menino apaixonado pelo futebol e o jornalista interessado pela política. Assim quero continuar jogando, fazendo fitas para continuar acreditando que podemos recuperar a arte do nosso futebol e promover uma nova cultura no jeito de fazer política, àquela que pedimos quando conquistamos a redemocratização.

Teria todos os motivos do mundo para acreditar que foi decretada a falência moral do nosso futebol e da nossa política, e que ela é irreversível, mas não, como não ter esperança em ver as fortunas que foram “pedaladas”, arrancadas do nosso futebol, da nossa educação, da nossa saúde, transformando-se na esperança de novos dias para as futuras gerações. Como diz a canção dos Novos Baianos: “Só se não for brasileiro nessa hora”.

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